quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

AVALIAÇÃO


Avaliação e aprendizagem


Neste texto, os autores discutem uma nova maneira de se pensar avaliação. Questões como "O quê avaliar? Para que avaliar? Como avaliar?" são discutidas ao longo do texto. Apresentam, também, exemplos concretos de escolas públicas, de todo o país que pensam e praticam um novo conceito de avaliação.
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Mariano Enguita: "As funções da avaliação são potencialmente duas: o diagnóstico e a classificação. Da primeira, supõe-se que permita ao professor e ao aluno detectar os pontos fracos deste e extrair as conseqüências pertinentes sobre onde colocar posteriormente a ênfase no ensino e na aprendizagem. A segunda tem por efeito hierarquizar e classificar os alunos. A escola prega em parte a avaliação com base na primeira função, mas a emprega fundamentalmente para a segunda."
"A avaliação (...) tem de adequar-se à natureza da aprendizagem, levando em conta não só os resultados das tarefas realizadas, o produto, mas também o que ocorreu no caminho, o processo. Para isso é preciso observar:Que tentativas o aluno fez para realizar a atividade?Que dúvidas manifestou?Como interagiu com os outros alunos?Demonstrou alguma independência?Revelou progressos em relação ao ponto em que estava?""A avaliação deve servir para subsidiar a tomada de decisões em relação à continuidade do trabalho pedagógico, não para decidir quem será excluído do processo."
Verificação ou avaliação: o que pratica a escola?
Cipriano Carlos Luckesi



Você já refletiu sobre o que significa traduzir a apreensão de um determinado conteúdo, o desenvolvimento de competências e habilidades, num número ou conceito? Como a escola tem utilizado o sistema de notas ou de conceitos? Apenas como instrumento de aprovação ou reprovação? Neste artigo, o autor analisa como a avaliação tem sido praticada na escola. Além de discutir aspectos importantes a serem considerados pelo professor no diagnóstico da aprendizagem de seus alunos.
."Precária ou não, importa compreender que, na aferição da aprendizagem, a medida é um ato necessário e assim tem sido praticada na escola. Importa-nos ter clareza que, no movimento real da operação com resultados da aprendizagem, o primeiro ato do professor tem sido, e necessita ser, a medida, porque é a partir dela, como ponto de partida, que se pode dar os passos seguintes da aferição da aprendizagem."
"Com o processo de medida, o professor obtém o resultado - por suposto, objetivo - da aprendizagem do educando que, por sua vez, é transformado ou em nota, adquirindo conotação numérica, ou em conceito, ganhando conotação verbal."
"Em síntese, as observações até aqui desenvolvidas demonstram que a aferição da aprendizagem escolar é utilizada, na quase totalidade das vezes, para classificar os alunos em aprovados ou reprovados. E nas ocasiões onde se possibilita uma revisão dos conteúdos, em si, não é para proceder a uma aprendizagem ainda não realizada ou ao aprofundamento de determinada aprendizagem, mas sim para "melhorar" a nota do educando e, por isso, aprová-lo."
"O momento de aferição do aproveitamento escolar não é o ponto definitivo de chegada, mas um momento de parar para observar se a caminhada está ocorrendo com a qualidade que deveria ter."
"De fato, o ideal seria a inexistência do sistema de notas. A aprovação ou reprovação do educando deveria dar-se pela efetiva aprendizagem dos conhecimentos mínimos necessários, com o conseqüente desenvolvimento de habilidades, hábitos e convicções. Entretanto, diante da intensa utilização de notas e conceitos na prática escolar e da própria legislação educacional que determina o uso de um forma de registro dos resultados da aprendizagem, não há como, de imediato, eliminar as notas e conceitos da vida escolar."
"A avaliação, no caso, seria um mecanismo subsidiário pelo qual o professor iria detectando os níveis de aprendizagem atingidos pelos alunos e trabalhando para que atingissem a qualidade ideal mínima necessária. Só passaria para um conteúdo novo, quando os alunos tivessem atingido esse patamar mínimo."
"O que não podemos admitir é que muitos educandos fiquem aquém do mínimo necessário de conhecimentos, habilidades e hábitos que delineiem as possibilidades do seu desenvolvimento."






Avaliação mediadora: uma relação dialógica na construção do conhecimento.
Jussara Maria Lerch Hoffmann

Você já ouviu a palavra epistemologia? Qual a relação desta palavra com o cotidiano do professor? Pois esta é a essência de seu trabalho. Numa sala de aula temos três elementos: o professor, os alunos e o conhecimento. Como estes três elementos se interrelacionam? São muitas as respostas possíveis! Imagine uma aula sobre células. O professor apropriou-se deste saber possivelmente numa outra situação educativa (numa aula, ou fazendo pesquisas, etc). O aluno não estudou tanto quanto o professor, mas já tem suas hipóteses sobre células (mesmo uma criança de pré-escola já pode ter ouvido este termo na televisão, ou, se nunca ouviu, a palavra pode lhe sugerir alguma coisa). Temos então o professor, o aluno e um tema que será objeto de conhecimento (as células). A aula é um momento formalmente criado onde esses três elementos se encontram. O professor sabe tudo sobre células? Não. O aluno não sabe nada sobre células? Possivelmente não. Podemos pensar, então, que são dois sujeitos se relacionando com o conhecimento na sala de aula: o aluno e também o professor. O conhecimento se atualiza quando aluno e professor se comunicam. Desta forma, falar em epistemologia no contexto de sala de aula fica mais fácil: estudo crítico dos conhecimentos já acumulados pela ciência (conhecimento já produzido sobre as células). Mas professor e aluno têm papéis diferentes, senão não poderíamos falar da relação entre dois alunos. O professor como parceiro mais experiente tem como papel facilitar o acesso do aluno a este conhecimento. Para a autora, da mesma forma que o professor faz a mediação entre o conhecimento e o aluno, a avaliação deveria mediar todo esse processo. Assim como o médico, através de exames laboratoriais e de sua avaliação clínica prescreve medicamentos e outras medidas conforme o estado de saúde de seu paciente, o professor deveria utilizar a avaliação durante todo o processo de ensino-aprendizagem, observando como o aluno está apreendendo o conhecimento, que dificuldades enfrenta, que reformulações em seu método de ensino devem ser feitas, etc. Ou seja, a avaliação passa a ser um instrumento de regulação da aprendizagem.
"Se o aluno é considerado um receptor passivo dos conteúdos que o docente sistematiza, suas falhas, seus argumentos incompletos e inconsistentes não são considerados senão algo indesejável e digno de um dado de reprovação. Contrariamente, se introduzirmos a problemática do erro numa perspectiva dialógica e construtivista, então o erro é fecundo e positivo, um elemento fundamental à produção de conhecimento pelo ser humano. A opção epistemológica está em corrigir ou refletir sobre a tarefa do aluno. Corrigir para ver se aprendeu reflete o paradigma positivista de avaliação. Refletir a respeito da produção de conhecimento do aluno para encaminhá-lo à superação, ao enriquecimento do saber significa desenvolver uma ação avaliativa mediadora.""Ou seja, o acompanhamento do processo de construção de conhecimento implica favorecer o desenvolvimento do aluno, orientá-lo nas tarefas, oferecer-lhe novas leituras ou explicações, sugerir-lhe investigações, proporcionar-lhe vivências enriquecedoras e favorecedoras à sua ampliação do saber.""As exigências avaliativas, desprovidas muitas vezes de significado quanto ao desenvolvimento efetivo das crianças e dos jovens, favorecem a manutenção de uma Escola elitista e autoritária
Avaliação escolar: limites e possibilidades
Clarilza Prado de Souza

Alguma vez você já pensou que a avaliação fosse parecida com um remédio? Idéia estranha, não é? Mas, neste texto, você vai perceber que a avaliação, assim como os remédios, tem propriedades, pode produzir reações adversas e efeitos colaterais. E ainda mais: que devem ser tomadas precauções ao utilizá-la, que existem indicações e contra-indicações, assim como há uma maneira correta de empregá-la (posologia). Confira o texto e faça uma reflexão sobre a forma como você tem utilizado esse remédio.
"O processo avaliativo parte do pressuposto de que se defrontar com dificuldades é inerente ao ato de aprender. Assim, o diagnóstico de dificuldades e facilidades deve ser compreendido não como um veredicto que irá culpar ou absolver o aluno, mas sim como uma análise da situação escolar atual do aluno, em função das condições de ensino que estão sendo oferecidas. Nestes termos, são questões típicas de avaliações:- Que problemas o aluno vem enfrentando?- Por que não conseguiu alcançar determinados objetivos?- Qual o processo de aprendizagem desenvolvido?- Quais os resultados significativos produzidos pelo aluno?"- "Precauções: A avaliação escolar não deve ser empregada quando não se tem interesse em aperfeiçoar o ensino e, conseqüentemente, quando não se definiu o sentido que será dado aos resultados da avaliação.A avaliação escolar exige também que o professor tenha claro, antes de sua utilização, o significado que ele atribui a sua ação educativa."
"Contra-indicações: A avaliação é contra-indicada como único instrumento para decidir sobre aprovação e reprovação do aluno. O seu uso somente para definir a progressão vertical do aluno conduz a reduções e descompromissos. A decisão de aprovação e retenção do aluno exige do coletivo da Escola uma análise das possibilidades que essa Escola pode oferecer para garantir um bom ensino.A avaliação escolar também é contra-indicada para fazer um diagnóstico sobre a personalidade do aluno, pois sua abrangência limita-se aos objetivos do ensino do programa escolar.A avaliação escolar é contra-indicada para fazer prognóstico de sucesso na vida. Contudo, o seu mau emprego pode expulsar o aluno da Escola, causar danos em seu autoconceito, impedir que ele tenha acesso a um conhecimento sistematizado e, portanto, restringir a partir daí suas oportunidades de participação social."
Publicação: Série Idéias n. 22. São Paulo: FDE, 1994Páginas: 89-90

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