quinta-feira, 9 de julho de 2009

Amigo é coisa pra se guardar...

Um comentário:

  1. A HOMENAGEM SÓ PODERIA VIR EM FORMA POÉTICA. SÃO OS POETAS QUE, POR MAIS AMARGA A VIDA, REDESCOBREM A PALAVRA. AFINAL, ELES QUE TÊM A CHAVE...PARA QUALQUER TEMPO E ESPAÇO. ATÉ PARA ESSA HORA DE SAUDADE-DOR.

    PRIMEIRO VINÍCIUS:

    Soneto do amigo

    Enfim, depois de tanto erro passado
    Tantas retaliações, tanto perigo
    Eis que ressurge noutro o velho amigo
    Nunca perdido, sempre reencontrado.

    É bom sentá-lo novamente ao lado
    Com olhos que contêm o olhar antigo
    Sempre comigo um pouco atribulado
    E como sempre singular comigo.

    Um bicho igual a mim, simples e humano
    Sabendo se mover e comover
    E a disfarçar com o meu próprio engano.

    O amigo: um ser que a vida não explica
    Que só se vai ao ver outro nascer
    E o espelho de minha alma multiplica...(Vinicius de Moraes)

    AMIGOS
    (JORGE, EU TE RECONHEÇO COMO AMIGO)

    Tenho amigos que não sabem o
    quanto são meus amigos.
    Não percebem o amor que lhes
    devoto e a absoluta
    necessidade que tenho deles.
    A amizade é um sentimento mais
    nobre do que o amor,
    eis que permite que o objeto dela
    se divida em outros afetos,
    enquanto o amor tem intrínseco o ciúme,
    que não admite a rivalidade.
    E eu poderia suportar,
    embora não sem dor,
    que tivessem morrido todos os
    meus amores, mas enlouqueceria
    se morressem todos os meus amigos!

    Até mesmo aqueles que não percebem
    o quanto são meus amigos e o quanto
    minha vida depende de suas existências ....
    A alguns deles não procuro, basta-me
    saber que eles existem.
    Esta mera condição me encoraja a seguir
    em frente pela vida.

    Mas, porque não os procuro com
    assiduidade, não posso lhes dizer o
    quanto gosto deles.
    Eles não iriam acreditar.
    Muitos deles estão ouvindo esta crônica
    e não sabem que estão incluídos na
    sagrada relação de meus amigos.

    Mas é delicioso que eu saiba e sinta
    que os adoro, embora não declare e
    não os procure.
    E às vezes, quando os procuro,
    noto que eles não tem
    noção de como me são necessários,
    de como são indispensáveis
    ao meu equilíbrio vital,
    porque eles fazem parte
    do mundo que eu, tremulamente,
    construí e se tornaram alicerces do
    meu encanto pela vida.

    Se um deles morrer,
    eu ficarei torto para um lado.
    Se todos eles morrerem, eu desabo!
    Por isso é que, sem que eles saibam,
    eu rezo pela vida deles.
    E me envergonho,
    porque essa minha prece é,
    em síntese, dirigida ao meu bem estar.
    Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
    Por vezes, mergulho em pensamentos
    sobre alguns deles.

    Quando viajo e fico diante de
    lugares maravilhosos, cai-me alguma
    lágrima por não estarem junto de mim,
    compartilhando daquele prazer ...
    Se alguma coisa me consome
    e me envelhece é que a
    roda furiosa da vida não me permite
    ter sempre ao meu lado, morando
    comigo, andando comigo,
    falando comigo, vivendo comigo,
    todos os meus amigos, e,
    principalmente os que só desconfiam
    ou talvez nunca vão saber
    que são meus amigos!

    A gente não faz amigos, reconhece-os.(VINÍCIUS DE MORAES)

    PARA FECHAR DRUMMOND

    A UM AUSENTE

    Tenho razão de sentir saudade,
    tenho razão de te acusar.
    Houve um pacto implícito que rompeste
    e sem te despedires foste embora.
    Detonaste o pacto.
    Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
    de viver e explorar os rumos de obscuridade
    sem prazo sem consulta sem provocação
    até o limite das folhas caídas na hora de cair.

    Antecipaste a hora.
    Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
    Que poderias ter feito de mais grave
    do que o ato sem continuação, o ato em si,
    o ato que não ousamos nem sabemos ousar
    porque depois dele não há nada?

    Tenho razão para sentir saudade de ti,
    de nossa convivência em falas camaradas,
    simples apertar de mãos, nem isso, voz
    modulando sílabas conhecidas e banais
    que eram sempre certeza e segurança.

    Sim, tenho saudades.
    Sim, acuso-te porque fizeste
    o não previsto nas leis da amizade e da natureza
    nem nos deixaste sequer o direito de indagar
    porque o fizeste, porque te foste (Carlos Drummond de Andrade)

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